Empresas que negociam utilizando moedas estrangeiras tornam-se, rapidamente, habituadas à palavra cotação. A verificação das oscilações cambiais ao longo do dia, muitas vezes, transforma-se em rotina para quem atua no mercado financeiro e também para quem compra ou vende produtos no exterior. Assim, vem a necessidade de um Hedge Cambial.
O fator cambial exerce tamanha influência que, em muitos casos, pode inviabilizar projetos. Seja por onerar expressivamente a carga tributária, seja por comprometer expectativas de pagamento ou recebimento. Entretanto, nos dias atuais, com o amadurecimento do mercado financeiro e o crescimento das relações comerciais entre países, surgiu um importante aliado para lidar com essa volatilidade: o hedge cambial. Desde então, essa estratégia passou a assumir protagonismo quando o assunto é proteger empresas e investidores das oscilações da taxa de câmbio.
Neste artigo, vamos explicar, de forma didática, o que é hedge cambial e como ele funciona na prática para diferentes tipos de empresas, explorando as principais opções disponíveis no mercado.
O que é Hedge Cambial?
Hedge cambial, ou proteção cambial, é um conjunto de operações financeiras que visa resguardar empresas contra variações futuras nas taxas de câmbio.
O termo hedge, em inglês, significa “cerca” ou “proteção”. Ou seja, fazer hedge é como cercar o negócio contra a volatilidade do câmbio. Na prática, funciona como um seguro: não impede oscilações, mas reduz seus efeitos sobre o caixa da empresa.
Qual a importância do Hedge Cambial no comércio exterior?
No comércio exterior, o risco cambial é uma constante. Importadores e exportadores realizam transações em moedas estrangeiras e ficam expostos às variações das taxas de câmbio.
O hedge cambial surge como uma ferramenta de proteção e previsibilidade diante dessas oscilações. Uma empresa que firma contratos de compra ou venda em dólar, por exemplo, pode utilizá-lo para travar a taxa e se proteger de movimentos adversos no mercado. Nessas situações, o hedge contribui para a preservação das margens e permite decisões mais seguras, mesmo em cenários de instabilidade cambial.
Como funciona o Hedge Cambial
Essa estratégia funciona por meio da contratação de instrumentos financeiros que irão fixar a taxa de câmbio em um valor definido para uma data futura. A forma de estruturar o hedge varia conforme o tipo de operação, seja de importação ou exportação, e de acordo com as necessidades da empresa. No entanto, o princípio é sempre o mesmo: abrir uma posição contrária ao risco envolvido.
A seguir, explicamos como essa proteção funciona na prática em dois cenários bastante comuns:
Para empresas importadoras
Empresas importadoras costumam ter despesas em moeda estrangeira. No exercício dessa atividade, o risco reside na moeda estrangeira se valorizar frente ao real.
O hedge cambial atuará contra esse cenário ao travar a cotação de compra da moeda. Na prática, a empresa realiza uma operação financeira no presente para definir quanto pagará pela moeda no futuro.
Imagine uma indústria brasileira que importe máquinas dos Estados Unidos no valor de US$ 200.000, com pagamento previsto para daqui a seis meses. Se o dólar hoje está em R$5,00, a compra representa R$1.000.000. Porém, se nesse período a cotação subir para R$5,50, o custo salta para R$1.100.000. Para evitar esse aumento, a empresa pode contratar um hedge, garantindo uma taxa próxima de R$5,00, com eventuais ajustes previamente definidos.
Assim, mesmo que o dólar suba, o valor em reais permanece protegido, evitando surpresas no orçamento e preservando a rentabilidade da operação.
Para empresas exportadoras
Já as empresas exportadoras enfrentam o cenário oposto: recebem em moeda estrangeira pelas vendas realizadas no exterior. O risco, nesse caso, está na desvalorização da moeda estrangeira frente ao real. Em outras palavras, o perigo para o exportador brasileiro é o dólar cair, reduzindo o valor em reais a ser recebido.
O hedge cambial para exportadores permite travar a taxa de venda da moeda, assegurando uma conversão mínima desejada e protegendo a receita esperada.
Imagine uma exportadora de café que fechou um contrato de US$ 1.000.000, com pagamento previsto para daqui a quatro meses. Hoje, com o dólar a R$5,20, o valor a receber seria de R$5.200.000. No entanto, há o receio de que a cotação caia para R$4,80, o que reduziria o montante em reais para R$4.800.000 — uma queda considerável. Para evitar essa perda, a empresa pode contratar um hedge agora, garantindo uma taxa próxima de R$5,20. Assim, mesmo que o dólar caia, ela assegura uma receita próxima ao valor planejado.
Principais estratégias de Hedge Cambial
Há diversas formas de proteger uma empresa contra a oscilação da taxa de câmbio, por meio de instrumentos financeiros conhecidos como derivativos cambiais.
Cada estratégia possui características, vantagens e custos específicos. A escolha da melhor opção depende do perfil da empresa, do tipo de operação internacional e do nível de exposição ao risco.
A seguir, trataremos diretamente das principais opções:
Contratos a Termo e NDF
Os contratos a termo estão entre as ferramentas mais usadas para proteção cambial. Nesse tipo de operação, a empresa e uma instituição financeira (como um banco ou corretora) combinam, com antecedência, a compra ou venda de uma moeda por uma taxa de câmbio fixa, com liquidação em uma data futura. Todos os detalhes — valor, taxa contratada e data de vencimento — são definidos no momento da contratação.
Quando chega o vencimento, a troca de moedas acontece exatamente como foi acordado, independentemente da cotação do câmbio naquele dia. Isso permite que a empresa elimine o risco de variação cambial durante o período coberto pelo contrato.
Uma variação desse instrumento é o NDF (Non-Deliverable Forward), ou contrato a termo sem entrega física. Nesse caso, em vez de haver troca de moedas, é feito apenas um ajuste financeiro com base na diferença entre a taxa combinada e a taxa de mercado no vencimento. Essa alternativa é especialmente útil para empresas que querem se proteger da volatilidade cambial sem movimentar dinheiro para fora do país — como em mercados onde há restrições à conversibilidade da moeda.
Contratos futuros de moedas
Os contratos futuros são uma estratégia comum de proteção cambial, especialmente entre empresas e investidores com acesso ao mercado de bolsa.
No Brasil, esses contratos são negociados na B3 e permitem comprar ou vender uma quantia de moeda em uma data futura por um preço previamente acordado.
Diferente do contrato a termo, que é firmado diretamente com uma instituição financeira, os contratos futuros são padronizados e negociados em bolsa, com ajustes diários de valor conforme a variação do dólar.
Para utilizar essa estratégia, a empresa precisa ter conta em uma corretora e depositar garantias — chamadas de margem de garantia — para cobrir eventuais oscilações diárias.
Embora exijam acompanhamento constante, já que a volatilidade do câmbio pode gerar chamadas de margem, os contratos futuros oferecem maior flexibilidade e liquidez.
Operações de Swap Cambial e Opções
Swaps cambiais e opções de moeda são instrumentos um pouco mais sofisticados para proteção cambial, porém muito úteis em determinadas situações. Vamos conhecer um pouco esses instrumentos:
Swap Cambial
O swap cambial é uma troca entre duas partes utilizando indexadores financeiros distintos. Por exemplo, uma empresa com dívida em dólar pode usar esse instrumento para convertê-la em reais, trocando a variação cambial pela variação de uma taxa de juros nacional, como a Selic.
Essa estrutura protege o caixa contra a alta do dólar, sem exigir a troca física de moeda no momento da contratação. Além do uso corporativo, o Banco Central (BC) também utiliza o swap como ferramenta de política monetária e cambial.
Ao trocar a variação do câmbio por uma taxa de juros, como a Selic, o BC oferece proteção ao mercado e ajuda a conter movimentos especulativos ou excessivos, contribuindo para estabilizar as expectativas dos agentes econômicos.
Ao ofertar swaps cambiais, o Banco Central influencia a oferta e a demanda por dólares de forma indireta, ajudando a suavizar a volatilidade do mercado sem precisar vender reservas internacionais.
Opções de câmbio
Já as opções de câmbio garantem ao comprador o direito, mas não a obrigação, de comprar ou vender moeda estrangeira por uma taxa preestabelecida até a data de vencimento.
Existem dois tipos principais: a opção de compra (call) e a de venda (put). Por exemplo, uma empresa importadora pode adquirir uma opção de compra de dólar a uma taxa X, com vencimento em três meses. Se, nesse período, o dólar ultrapassar X, a empresa exerce a opção e compra a moeda pelo valor acordado, evitando pagar mais caro. Caso o dólar caia abaixo de X, ela simplesmente não exerce a opção e aproveita o preço mais baixo no mercado à vista. A principal vantagem das opções é a flexibilidade, embora envolvam o pagamento antecipado de um prêmio, que é o custo da proteção. Funcionam como um seguro: ao pagar esse valor, a empresa se protege contra movimentos cambiais desfavoráveis, garantindo um teto, no caso de importadores, ou um piso, no caso de exportadores, para a taxa de câmbio.
Principais vantagens do uso de Hedge Cambial
Adotar mecanismos de proteção cambial como parte da gestão financeira traz diversas vantagens para as empresas expostas ao câmbio.
Destacamos a seguir as principais:
Evita perdas financeiras
A principal vantagem do hedge cambial é evitar perdas financeiras causadas por movimentos desfavoráveis nas taxas de câmbio. Sem proteção, a empresa fica totalmente exposta às oscilações do mercado.
Em momentos de crise, por exemplo, quando o dólar disparou frente ao real, muitas importadoras que não adotaram hedge viram seus custos dobrar ou até triplicar em questão de semanas, acumulando prejuízos expressivos.
Esse tipo de cenário pode ser evitado com o uso adequado dessa ferramenta. Ao travar a taxa, a empresa sabe exatamente quanto irá pagar ou receber, sem correr o risco de uma variação inesperada comprometer sua margem de lucro.
Proporciona maior tranquilidade e previsibilidade
Outra vantagem importante do hedge cambial é a previsibilidade. Com a taxa de câmbio definida, a empresa pode planejar orçamentos, formar preços e tomar decisões com mais segurança, sem depender das variações diárias do mercado.
A tranquilidade gerada é um benefício intangível, mas relevante. Com a proteção ativa, os gestores conseguem focar na produção, nas vendas e nas negociações, sem a preocupação constante com a cotação do dólar.
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Implementar um hedge cambial exige conhecimento do mercado financeiro e acesso às ferramentas certas. Cada empresa tem suas particularidades, e escolher a estratégia adequada pode fazer toda a diferença nos resultados.
A CONEXO, especialista em câmbio e comércio exterior, oferece assessoria personalizada para apoiar a sua empresa. Nossa equipe analisa a exposição cambial do seu negócio, identifica riscos e propõe as melhores soluções de proteção, de acordo as com suas necessidades.
Não permita que a variação das moedas afete o desempenho do seu negócio. Fale com a CONEXO e descubra como nossas soluções em câmbio e hedge cambial podem proteger suas operações internacionais e trazer mais segurança para o seu caixa.