“Quando comecei a trabalhar, como office boy, numa empresa trading, em 1982, minha rotina incluía ir praticamente todos os dias à sede do Sdaergs (Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Estado do Rio Grande do Sul), no Centro de Porto Alegre. Fiquei encantado com àquele prédio icônico e louco para fazer parte daquele mundo”. O depoimento, entusiasmado, foi feito pelo diretor-geral da Conexo Assessoria em Comércio Exterior, Fabio Belau, que atua no segmento desde 1982.
O diretor-presidente da Interlink Cargo, Francisco Cardoso, recebeu a nomeação de despachante aduaneiro da Receita Federal em 1995, 44 anos depois da inauguração do edifício sede da entidade, na Rua Caldas Júnior. “Mesmo sendo a minha participação muito recente na história do Sindicato, pude ainda sentir a energia e conviver com colegas em jantares e reuniões no prédio, como as que trataram da unificação estadual, que hoje é uma realidade”, destacou o empresário.
Administrador de Empresas, formado pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), em 1973, o despachante aduaneiro e sócio da Celiberto Logística Internacional, Antonio Celiberto, conta que a construção do edifício sede do Sdaergs foi possível graças à criação de uma associação imobiliária de profissionais da categoria que compraram quotas de participação, correspondente ao número de unidades do prédio. “A figura do despachante aduaneiro era muito respeitada, tanto que a nomeação/indicação para o cargo era prerrogativa do presidente da República até meados da década de sessenta”, recorda.
As obras de construção do edifício iniciaram na segunda metade dos anos 1940 e a inauguração ocorreu no dia 21 de abril de 1951. Celiberto, o único dos três empresários acima nascido na época, era ainda muito novo e não tem recordação da data. “Os escritórios dos despachantes aduaneiros ficavam no entorno da Travessa Paysandu, antigo Beco do Fanha, rebatizada de Caldas Júnior em 1944, por decreto do prefeito André da Rocha. A partir da inauguração da nova sede, passaram a ocupar as salas, como proprietários, no prédio. As lojas térreas foram alugadas e a renda revertia para o condomínio”, recorda ele.
Antonio guarda na memória histórias insólitas relacionadas ao prédio da Caldas Júnior. “A placa de bronze do décimo andar, fixada na parede desde a inauguração do edifício, foi furtada, não se sabe por quem e nem em que dia isto aconteceu. Havia uma foto dela e conseguiram fazer uma nova”, relata. O despachante aduaneiro, que chegou a trabalhar no local, diz que inicialmente utilizado exclusivamente por profissionais da categoria, o prédio atualmente tem uma variada ocupação.
A memória de Fabio Belau também guarda com carinho o tempo em que circulava pelo prédio, a partir dos anos oitenta. “As principais comissárias e despachantes aduaneiros tinham escritório ali e, como naquela época a papelada e carimbos eram a rotina dos profissionais da área, as idas e vindas junto aos despachantes, armadores, transportadores, corretores de câmbio e outros, se fazia imperativo, quase que diariamente”, afirma. “Recordo que a sede do Sindicato tinha enorme representatividade, era um ambiente fascinante”, relata emocionado.
Segundo Belau, nos anos oitenta o prédio mostrava sinais de decadência. “Houve então uma grande reforma que deixou outra vez a sede muito moderna e imponente, e os associados voltaram a sentir orgulho de fazer parte da história do edifício e da categoria, um ícone do comércio exterior gaúcho e que, espero, possa ser novamente uma marca dos despachantes”, comemora. A reforma, de fato, explica Celiberto, foi liderada pelo ex-presidente Erni Severo da Gama (já falecido). “A sede estava quase em ruínas, o Erni assumiu e reformou tudo. Com seu faro político, convenceu a todos e criamos o Sdaergs. Havia sindicatos em Porto Alegre e em Rio Grande. Participei da assembleia de fundação da nova entidade”, salienta. A gestão de Gama também é elogiada por Francisco Cardoso. “A meta que ele tinha era de unificar toda a categoria, incluindo todo o país, por meio da Federação Nacional dos Despachantes Aduaneiros, e ela foi totalmente cumprida”, elogia.
Há poucos dias, quebrando a rotina de permanência em casa na maior parte do tempo, trabalhando em home office, devido à pandemia provocada pela Covid-19, Cardoso decidiu passear de carro com a esposa. “Passei em frente ao prédio da Caldas Júnior e comentei com ela a força de uma categoria profissional que conseguiu construir um edifício em frente ao Porto de Porto Alegre e que teve que se adaptar às transformações de comércio, fronteiras e inovação tecnológica para seguir trabalhando”, avaliou. “Lamentavelmente, o fechamento do Porto e a decadência do Centro Histórico impactaram também na conservação do edifício e, como conseqüência, levou à mudança de várias sedes de empresas para outros locais”, ressaltou. Esperançoso, espera que o prefeito Sebastião Melo, no cargo desde janeiro, cumpra a promessa de campanha de revitalizar a região. “Quem sabe tenhamos, então, uma grande oportunidade para resgatar a pujança do Edifício do Sdaergs”, questionou.
O diretor-presidente da Interlink Cargo sugere a publicação nas redes sociais ou na Wilkipedia de material sobre a sede do Sdaergs, começando, assim, a reverter esta situação. “Matérias sobre a história da profissão, das diretorias anteriores do Sindicato e seus feitos e, é claro, relativas à construção e inauguração do edifício, que hoje é um legado dos despachantes aduaneiros, ”, diz Cardoso. A valorização do passado glorioso do Centro de Porto Alegre também é apontada por Celiberto como a única possibilidade de mudar o cenário atual. “Apenas o projeto do Cais do Porto pode revitalizar a área, mas isto parece que ainda vai levar alguns anos”, acredita ele, cético.
Experiente, Antonio entende que o próprio futuro do despachante aduaneiro está condicionado a mudanças e adaptações. A solução é a prestação de serviços de assessoria e consultoria na operação logística. Mas isto vai exigir uma reciclagem geral no pessoal, fluência em línguas e amplo conhecimento do processo de comércio exterior”, prevê. Fabio Belau prefere destacar o papel do despachante de facilitador entre as aduanas e os importadores e exportadores, que continuará, acredita. “Haverá evolução, operacionalmente, mas arrisco a prever que as alfândegas cada vez necessitarão mais de nossos serviços, porque a cadeia logística precisará estar mais interligada e especializada para que possamos assumir funções de ‘governo” como parte fiscalizadora, como já estamos vivenciando com a certificação OEA”, avalia o diretor-geral da Conexo.
Fonte: Assessoria de Imprensa SDAERGS